A menina do encore
29.06.10
Há sempre um momento nas nossas vidas que nos vai marcar e definir um desvio comportamental daí em diante. Hoje reencontrei a Menina do Encore na rua e lembrei-me do momento que fez o Patife ser um exibicionista de primeira água. Aliás, tenho para mim que o prazer inigualável que atinjo na berlaitada da via púbica em via pública, sob o risco de alguém estar a observar, tem muito a ver com este momento. O Patife era ainda um noviço sexual - sei que é difícil de acreditar que não nasci ensinado - e tinha uma amantizada que acordava logo de manhã cedinho, ia para minha casa, enfiava-se na minha cama e por lá ficava até o despertador tocar. Depois ia cada um para o seu liceu. Ela ia de papo cheio. O Patife ia de bolas vazias. Era uma espécie de negócio. Mas houve um dia em que a menina do encore entra na minha cama em fogo, tal a necessidade de se sentir uma franguinha no espeto em brasa. Dá-me então a sua versão de morning glory pachecal, ficando boquiaberta de espanto. Ainda pensei em carregar no snooze oral, só para ter nova dose passados dez minutos, mas o Pacheco não deixou e ele é que dita as regras dentro da dita. Ora pouco depois, estava a moça já montada de cabelos ao vento – sim, é verdade: de cabelos ao vento. Sempre que uma moça assume a posição de cavaleira tenho na cabeceira da cama uma ventoinha que me apresso a ligar na direcção da moça, para dar um efeito visual mais cinematográfico. Ela passa logo ao galope e eu sinto-me um puro sangue lusitano. Mas dizia eu antes de me perder em detalhes: Ora estava a moça já montada de cabelos ao vento - já falei da ventoinha, não já? – em êxtase puro, de rédeas soltas, quando no preciso momento em que se atinge o orgasmo, o despertador de rádio toca sintonizado numa estação de música. A questão é que se tratava do final de uma música ao vivo, pelo que assim que atingi o final da performance, na rádio que se liga apenas se ouve um maralhal de gente a aplaudir e a gritar em histeria, pedindo bis e encores. Confesso-vos que me comovi com o público a aplaudir mesmo no final da minha performance. E desde esse dia, sempre que há avianço fora de portas, imagino uma plateia de mirones a admirar o acto em segredo, entrando em euforia aplaudista a arrancar cabelos e a comentar a performance do Patife.