A Dama de Paus
28.11.11
Ela era conhecida como Dama de Paus. Meses mais tarde explicaram-me que era a sua alcunha de jogadora profissional de poker. Mas no momento, assim que ouvi Dama de Paus a minha mente flutuou e não ouvi mais nada. Julguei que era uma devassa fodilhona que não podia ver um pau à frente sem ter de o aviar. Ou de o abocanhar sofregamente lambuzando-se até à exaustão, se estivesse mais para aí virada. Penso que é razoável este engano. Dama de Paus é claramente um epíteto próprio de quem gosta de pinar. E seria o equivalente perfeito para o Pacheco, que entre as suas inúmeras alcunhas oficialmente registadas é também conhecido como o Ás dos Paus. A simetria era perfeita por isso avancei com confiança. Além disso ela tinha o rabo dos rabos. O suprassumo dos cagueiros. O oásis das bilhas. O shangri-la das pandeiretas. Mas depressa percebi que não era uma qualquer no jogo da sedução. A personalidade da gaja era exactamente como o seu cabelo. Tinha nuances. O que é sempre o cabo dos trabalhos. A conversa não ia má de todo, até que ela começou a relatar a sua experiência de quase-perigo-de-vida e a forma como, por milagre, se salvou. Foi um momento intenso e de profunda intimidade que me tocou. Ao abrigo deste espírito de partilha tão sentido, o Patife abriu o coração e também contou a sua experiência quase fatal. Foi logo à nascença, num parto atribulado. Corria risco de vida pois os médicos pensaram que eu estava a sufocar com o cordão umbilical enrolado ao pescoço. Afinal era só o Pacheco. Ela não achou piada, mas ficou amplamente intrigada. Percebi isso pela forma como olhava para as minhas calças sempre que eu pegava no copo. E assim se passou do cabo dos trabalhos para o rabo dos rabalhos.