Regresso à poesia
22.04.14
Volta e meia lá aparece alguém a acusar-me de ser ordinário, troglodita, homem das cavernas, parolo e o bajolo a sete. Confesso que ruborizo com tanto elogio. Mas depois fico sem dormir à noite a pensar mesmo que ofendi alguém com a minha sensibilidade de gnu, próprio de quem gosta muito de ir ao cu. Por isso, hoje torno a voltar-me para coisas bonitas, como a poesia. E também para aqueles que insistem em voltar, estranhamente na esperança de encontrar aqui coisas sábias, de ínclita profundidade intelectual, daquelas capazes de elevar a cultura nacional. Por eles, passei a noite em claro a pensar que se o Bocage e o Shakespeare fossem um só, teriam escrito muitas coisas lindas e fofinhas assim:
Se te comparo a um dia de tesão,
Desfaço-me num cansaço ameno
Espalhamos as roupas pelo chão,
Pelas ruas, pelos vales, pelo feno.
A toda a hora cresce o falo em demasia
Enfim, é essa a minha natureza;
Se quiseres só me tens por um dia,
Na constante mutação da picha tesa.
Mas na cama o tesão será eterno,
E de todas as maneiras pinarás;
Faço da minha picha o teu inferno:
Comendo-te pela frente e por detrás.
E quando eu precisar de me entreter,
Minhas mãos profanas te farão foder.