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Fode Fode Patife

Fode Fode Patife

Caça sexual recreativa

29.04.21

Certo dia, uma apareceu-me à porta de casa pelas oito da noite, supostamente “pronta para jantar”. Diz que combinámos há um mês. Como sou daquele tipo de gajo que não se lembra de quem comeu ontem, não estranhei muito o facto de não me lembrar de ter combinado um jantar com esta magana. Não costumo ter por hábito marcar jantares com tanto tempo de antecedência, por isso ainda indaguei: "Tens a certeza que foi para hoje que marcámos? Não estava propriamente a contar com isto hoje...”. Mas ela responde toda empertigada e com uma convicção inaudita: “Tenho, sim! Além disso, já estou aprontada, perfumada e estou com fome. Se não te lembras, agora vais ter de enfiar o barrete.” Pensei em responder-lhe: "Oh filha, mais depressa vou ter de te enfiar o barrote", mas guardei o trocadilho para mais tarde e saímos para jantar. “Onde me vais levar?", pergunta cheia de entusiasmo e esperança de ir a um restaurante digno do seu aprumo visual. Dado que não marquei restaurante, mais depressa a levava para a cama. Mas esta é daquelas que não dá a chona sem ter uma refeição no bucho primeiro. Imagino-a a desabafar com as amigas: “Abri as pernas sim, mas foi depois de um jantar no Palácio Chiado. O que é que eu podia fazer?”. Se não considerasse a prostituição uma espécie de fazer batota no jogo da sedução, saía-me mais barato. Mas jogo com respeito e sem atalhos fáceis nesta maravilhosa aventura da sedução, primando pela arte da caça. Contudo, caço-as mas é pura caça recreativa. Não quero ficar com elas e levá-las para casa. Nem tão pouco exibir a sua pachacha por cima da lareira, como troféu de caça. Depois de caçadas, liberto-as e solto-as de volta para o seu habitat natural de dengosice idealista. E trato-as muito bem. Quando não me pedem que as trate mal. Agora se há coisa que o Patife não faz, é fazer das tipas coração.

Da literatura à dita dura #1

24.04.21

Pedacinhos de literatura que deixam o Patife com a dita dura:

Há duas formas de solidão, não há? Há a solidão do isolamento absoluto, o facto de viver fisicamente só, de trabalhar só, como eu sempre fiz. Não é necessariamente doloroso. Para muitos escritores é até essencial. Outros precisam de um grupo doméstico de servidores femininos para lhes dactilografar os malditos livros e lhes manter os egos bem insuflados. Estar sozinho a maior parte do dia significa que estamos a escutar ritmos diferentes, ritmos que não são determinados pelas outras pessoas. Penso que é melhor assim. Mas há outro tipo de solidão que é terrível de suportar, não há?  – Fez uma pausa. – É a solidão daqueles que vêem um mundo diferente do das outras pessoas. As suas vidas nunca se tocam. Tu consegues ver o abismo e elas não. Tu vives entre elas. Elas caminham sobre a terra. Tu caminhas sobre vidro. Elas encontram segurança na conformidade, em similitudes cuidadosamente construídas. E tu mascaras-te, consciente da tua absoluta diferença.

DUNKER, Patricia - “A sombra de Foucault”.

Salto à minha vara

12.04.21

Desconfio que a suprema e ancestral arte do engate vá viver tempos difíceis. O piropo movimenta-se num campo lexical minado de perigos sociais, capaz de ativar uma explosão a qualquer momento, o galanteio ultrapassa facilmente as fronteiras do razoável, e o mais simples dos elogios tem de saber escolher as palavras cuidadosamente, não vá de repente ser transformado em alguma forma imprópria de assédio sexual. São tempos duros, quase tão duros como o meu Pacheco e obrigam a uma reinvenção na forma de expressar o interesse meramente carnal, como se tal fosse pecado. É nobre ter um interesse genuíno, emocional e intelectual por outra pessoa. Mas o interesse carnal deveria estar revestido da mesma nobreza de valores. Tudo deveria ser válido. Mas os dias que correm anunciam cuidado. Por sorte, sou um gajo que lê muito. Não raras vezes, quando não estou a pinar, estou a ler. Então, para exorcizar este defeito terrível que é gracejar como um alarve, na ténue esperança que a qualidade do humor me salve de ser alvo de um processo de assédio, tive de me readaptar e começar a usar tiradas fantásticas de anos de literatura que me ficaram nos arquivos da memória.
No tempo em que usava o humor directo, tudo era bem percebido: "Este Patife quer pinar. Na verdade, não tenho nada melhor para fazer, por isso vamos a isso!"  Tudo simples. Mas agora, uso pérolas de sabedoria literária que as deixam molhadinhas e com o pipi aos saltos. E não são saltos simples. São saltos dignos de ganhar medalhas olímpicas nas provas de atletismo, nomeadamente as do salto à vara. E eu apresento-me logo para ser usado, caso um qualquer pipi queira triunfar no salto à minha vara. É só chegar, ver e foder. Ou seria. O problema é que digo coisas profundamente sábias, por vezes até sensíveis. Elas adoram. E é aqui, precisamente aqui, que começam todos os equívocos: apaixonam-se. Elas pensam que é por mim, coitadas, o que é o cabo dos caralhos. Mas não é. Não sabem nem sonham, mas na verdade ficam caidinhas pelo Breton, pelo Barthes, pelo Herberto Helder ou pelo Gogol. Pouco importa para o caso. Por mim é que não é. “És tão inteligente”, dizem. Não sou. Tenho é boa memória. Pelo menos para livros. Já quanto a fodas, depois de pinar passaste à história.

Espanca-me (calma, é só poesia)

07.04.21

Há dias em que acordo quase soturno, à beira da melancolia, como que a escutar uma maré interminável de trovoada interior. É nesses dias que me viro para a poesia. E esta manhã acordei a pensar que se o Patife e a Florbela Espanca fossem um só, haviam de se ter espancado com palavras, “ora amargas, ora doces”, digladiando-se para as encaixar num poeminha lindo, cru e honesto que se elevaria nas escadarias da erotização poética nacional. Um poeminha mais ou menos assim:

Pinar

Eu quero pinar, pinar perdidamente!
Pinar só por Pinar, não interessa quem,
Mais esta e aquela, a outra e toda a gente...
Amar o momento e não amar ninguém!

Incrível? Inesquecível? É indiferente!...
Único, deslumbrante? Foi mal? Foi bem?
Quem disser que se pode mamar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma chona nova em cada alvorada,
É preciso cortejar e seguir a estrada,
Pois se me deram um sardão, foi pra pinar.

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite mais uma pinada,
Que me volte a foder, pra voltar a sonhar.