Bocantónio Maria Lisboa
19.01.12
Durante a minha mais recente sessão de terapia constatei que tenho deixado de lado alguns sonhos ao longo da vida. O sonho, essa dimensão forjada pelo recalcamento do desejo, é soberano e penitenciei-me por ter condenado ao esquecimento a realização de alguns sonhos. Por isso apressei-me a ir para casa reler o Rêve Oublié do António Maria Lisboa. É bonito mas meio mariquinhas. Por isso, hoje de manhã acordei a pensar que se o Bocage e o António Maria Lisboa fossem um só, podiam ter criado shangri-las literários numa simbiose perfeita entre a densidade poética de um e a boçalidade lírica do outro. E se o Bocage e o António Maria Lisboa fossem um só teriam certamente criado coisinhas poéticas lindas assim:
Rêve Oublié
Neste meu hábito surpreendente de te foder de costas
neste meu desejo irreflectido de te fornicar num trampolim
nesta minha mania de te aviar como tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora a pinar em contra-luz para ver na sombra
agora a encostar-te ao vidro e deixar-te por terra
agora a enfiar-te na boca esta magnífica tromba
e depois vir-me de forma eterna.
Continuar a dar pinadas e mudar a posição do mastro
continuar a foder à bruta e nunca terminar cedo
continuar a procurar a fenda de uma princesa sem cuecas
e depois fechar a porta e prendê-la no meu enredo
Contar as quecas pelos dedos e perdê-los
contar um a um os nomes delas e não lembrar de nada
contar as chonas rapadas e descobrir-lhes o brilho
e depois fechar os olhos e limitar-me a seguir a estrada.