Escolhida a dedo
08.12.11
Adoro a minha empregada doméstica. Chama-se Ava, é alta, loira e ucraniana. Sim, foi escolhida a dedo. No processo de selecção passei o dedo pela senisga de todas as empregadas assim que as apanhei distraídas de costas. A Ava foi a única que não me bateu, por isso foi naturalmente a escolhida. A dedo. Vem cá a casa duas vezes por semana e eu faço por estar sempre presente, estatelado no sofá a dizer disparates enquanto ela trabalha. Ela faz-me a cama e eu grito logo do sofá para ela me fazer a mama. São coisas assim que nos fazem ter uma relação patrão-empregada muito especial. Gosto muito da Ava e seria incapaz de a afiambrar. Aliás, seria incapaz de sequer ousar pensar em comê-la à canzana enquanto lhe puxo as longas tranças loiras ao ritmo dos seus gemidos burlescos e ela me olha de lado como que a pedir que lhe chame nomes e a trate por porcalhona com sotaque ucraniano. Ontem trouxe-me pastéis de nata, porque sabe que eu gosto. Não demorei muito a dizer que preferia pastéis de rata. Ela ri-se muito destas coisas. Possivelmente por não perceber um corno de português. Na verdade a Ava é tudo o que eu sempre sonhei numa empregada doméstica: é à prova de fala. Ela gosta muito da minha barba de três dias e sempre que se vai embora passa as pontas dos dedos delicadamente pela minha face esquerda em jeito de despedida. Por acaso ela deve estar quase a chegar e reparo agora que a minha barba não está de três dias. Está de quatro. Falo da barba e não da rapariga que está à minha espera no quarto, que coincidentemente também está de quatro.