Fittipaldi da canzana
06.09.12
Eraelegante e graciosa, com uma essência feminina assinalável, e cantava jazz comouma sereia contemporânea. Mas também tinha umas mamas generosas. Dirão asmás-línguas que foi esse o único motivo que me fez engatá-la e levá-la paracasa. E estarão cobertas de razão. Tão cobertas como ficaram as mamas dela pelanhanha aqui do Pacheco. Mas confesso que a voz também ajudou. Foi, por isso,com alguma dose de estranheza que reparo que na cama a magana não emitia umúnico barulho. Depois de décadas a pinar como gente grande foi a primeira vez queuma sardanisca não me desatou a gemer de forma histriónica como se estivessecom um coqueiro entre as pernas, o que, convenhamos, não andará muito longe darealidade. Esta deve ter vindo comsilenciador, pensei. É nesse momento que me armo em Fittipaldi da canzana elhe meto a quinta a fundo, aumentando o ritmo de bombada para a red zone dasrotações pélvicas. Ela mordia os lábios, o rosto ia aumentando de tonalidade devermelho, o corpo trepidava como se estivesse a ter um ataque epilético, mas,foda-se, que nem um gemido saía daquela boquinha. E já nem queria saber deatingir um orgasmo. Naquele momento o meu objectivo de vida passou a ser apenasum: Conseguir que a magana soltasse um mísero sonzinho que fosse. Sou um pouco comoas crianças. Quando não consigo uma coisa não resisto a esgotar todas aspossibilidades para descobrir o que se passa e dar a volta à questão. Invade-mesempre um pensamento Proustiano e assemelho-me a esses miúdos que desmontam umdespertador para saber o que é o tempo. Por isso tive de inspecionar de perto.Tirei-lhe a jiboia de dentro das guelras e lancei-me nas artes doabocanhamento. Invisto com técnicas aprimoradas e devidamente comprovadas porcentenas de pachachas lambuzadas e esta sirigaita continuava sem um únicoespasmo vocálico. Fulo da vida e prestes a desistir, é aqui que me revolto. Afastoo meu corpo do corpo dela e penso alto, soltando inadvertidamente umdesapontado mas nada ofensivo: PUTA!. Haviam de ver: o corpo dela explode,soltando o acumular do prazer pelas refinadas técnicas nela investidas nasúltimas horas e começa numa sucessão de uivos articulados com impropérios profundamenteordinários e por isso impróprios de serem reproduzidos neste espaço. Eu fiqueiimpávido a observar o descontrolo orgástico da moça, todo altivo e de peitocheio a olhar de longe com superioridade, satisfeito por ter conseguidodesvendar o enigma. Ao vê-la a ter um orgasmo assim, recordei então uma pérolaliterária do Miguel Esteves Cardoso que legendaria este momento na perfeição:“E conseguir vir-se no vácuo, a grande puta”.