Ir abaixo
18.10.12
Deixo o carro ir abaixo muitas vezes. Deve ser a ironia da natureza a manifestar-se de forma compensatória pelo facto de não deixar o mangalho ir abaixo vez nenhuma. O karma tem destas coisas. Isto a propósito de um passeio que fiz durante as férias por Atenas num carro alugado. Acabei por dar essa volta com um tipo que tinha conhecido no cruzeiro e que me pareceu um bom wingman para Atenas, uma vez que falava grego e era nitidamente menos atraente que eu. Quando estava a tentar estacionar deixei o carro ir abaixo e o tipo teve uma reacção de desmarcação ostensiva do momento, como se deixar o carro ir abaixo fosse algo de verdadeiramente vergonhoso para a virilidade de um gajo. É que estavam umas gregas lindíssimas mesmo no passeio ao lado a olhar e ele não quis ficar conotado com a minha aselhice ao volante. Começou a abanar a cabeça de forma intensa e a revirar os olhos exageradamente para tentar, de alguma forma, não ficar naquela fotografia. Como se fosse possível que passadas umas horas ele fosse encontrar as gregas e elas o abordassem dizendo: tu és o tipo que estava com aquele gajo que deixa o carro ir abaixo, não és? Vi pela tua reacção que nunca deixas o carro ir a baixo. Não quererás porventura comer-me a pachacha? Mas o mundo é fértil em surpresas e por vezes proporciona-nos aquilo a que chamo “as rimas da picha”. É que acabámos mesmo por encontrar as raparigas na noite grega. Ele armou-se em pavão. Já eu, armei-me em parvão. Enquanto ele se gabava de peito cheio de ser o maior condutor da galáxia eu mantive a coerência e garanti às gregas que também as deixava ir abaixo. Aliás, deixei-as vir abaixo muitas vezes.