Toucinho-do-céu
17.09.12
Ontemtentei uma coisa diferente. O meu terapeuta tem andado a semana toda a chatear-me e a dizer que eu continuo a comportar-me como um puto reguila desmiolado que pensa quenão existem consequências para os seus actos e que julga que vai encontraralguma sabedoria depois de pinar o maior número de pachachas sem sentido.Tentei explicar-lhe que todas as pachachas que comi tiveram algum sentido paramim. Mais não fosse o sentido crescente do meu pincel. Por isso, eledesafiou-me a convidar uma mulher para jantar e depois para a levar a casa semtentar nenhuma artimanha para a aviar. Gastar um jantar com conversa que depoisnão leva a lado nenhum pareceu-me parvo, mas aceitei o desafio. Ele dizia quepodia levar a um outro lado qualquer, mas não percebi bem qual. E lá fui. Estavatudo a correr bem até à altura da sobremesa. É que ela pega no cardápio e pedede sobremesa um dos muitos cognomes do Pacheco: Toucinho-do-céu. E continuou,claramente a atiçar-me: Ai, está tanto a apetecer-me um toucinho-do-céu. Ai o toucinho-do-céudeixa-me de água na boca. Eu ia apertando a toalha da mesa para me conter masentretanto chega o doce à mesa. Ela ia metendo o toucinho à boca enquantosoltava onomatopeias de prazer, numa clara provocação a que nenhum homem desardão rijo conseguiria resistir. Podem dizer que isto é loucura mas um homemvê uma mulher a gemer com um toucinho-do-céu na boca e o seu primeiro instinto é o de alevar ao céu com o seu próprio toucinho. A natureza é mesmo assim. E não mecritiquem. Não fui eu que criei as leis da natureza humana. Por isso nãodescansei enquanto não meti o toucinho-ao-léu. E logo de seguida foi o meu toucinho-no-céu.Da boca da piquena.